© Neue Sirene™



Ana Luísa Amaral

Suspensórios de sol     (Portoguese/German)

Tirar do bolso um tempo, outros lugares.
Suspensórios antigos e tão fora de moda,
voltando-me de súbito aos ouvidos:
a voz da minha mãe, um riso, o ser pequena
em roda da ternura, ou aquela noite escura
em que me balouçava de ambas as mãos deles.

Por cima, era de céu de tinta preta,
e estrelas, a vertigem, mas a mão esquerda
vinda do meu pai, na minha mão direita,
e as estrelas tão perto, como cair da cama
do avesso, ou mergulhar em tecto.

Tempos daquele circo colorido,
em frente do cinema, o cheiro doce
da serradura húmida, a serradura em sons
ao ser pisada, a entrada na luz,
nos súbitos relâmpagos feitos de absoluta lucidez.

Trazia um elefante por dentro da cabeça
e o sonho de fugir em caravana,
não precisar de escola, e prender
o trapézio no olhar.

Refugiar-me em sol, até à serra,
onde viviam grupos de ciganos que desciam,
às vezes, à vertigem da vila.
E era cair da serra do avesso,
como cair do sonho.

Já não saber cair sem ser direita: ver estrelas
ao contrário, como se fosse da primeira vez,
e senti-las em tecto, tapete de veludo,
e a vertigem tão certa.
Poder ressuscitar os suspensórios,
torná-los corda elástica e perfeita,
a borracha: um acerto de mãos dadas
dentro de sentir múltiplo.

Sabia que na serra se faziam fogueiras,
se cantava, se comia de roda da alegria,
com palavras diferentes, outros sons.
Que os palhaços voltavam quatro vezes no ano,
mesmo sem mim ao lado,
mas que cada vez outra, era outra vez igual:
a caravana, o sol, sonhar a serradura
em pés descalços, não precisar de escola,
e as cordas do trapézio.

No céu de tinta preta desta noite, cair
sobre as estrelas outra vez,
apertando nas mãos as coisas todas
feitas de alegria.
Tirar do bolso um suspensório aceso:
a música do circo como um sino, a serra
toda verde. E um elefante gordo de sorriso,
insinuando azul dentro da luz.


Ana LuísaAmaral

Der Sonnenhosenträger    (Portoguese/German)

Aus der Jackentasche eine Zeit nehmen, andere Orte.
Alte und so altmodische Hosenträger,
die mir plötzlich wieder zu Ohren kommen:
meiner Mutter Stimme, ein Lachen, das Kleinsein
in Zärtlichkeitsreigen, oder jene dunkle Nacht,
als ich an ihren beiden Händen schaukelte.

Oben bestand der Schwindel aus schwarzgefärbtem
Himmel und Sternen, doch die linke Hand
meines Vaters in meiner rechten Hand,
und die Sterne so nah, wie aus dem Bett fallen
kopfüber oder in eine Zimmerdecke tauchen.

Zeiten jenes bunten Zirkus
gegenüber dem Kino, der süßliche Geruch
des feuchten Sägemehls, das Sägemehl in Klängen,
wenn getreten, der Eingang im Licht,
in den plötzlichen Blitzen aus absoluter Klarsicht.

Ich trug einen Elefanten im Kopf
und den Traum in Karawane zu fliehen,
die Schule nicht zu brauchen, und das Trapez
im Blick festzuhalten.

Mich in die Sonne zu flüchten, bis zum Gebirge,
wo Zigeunergruppen lebten, die manchmal
herunter liefen, in den Schwindel der Kleinstadt.
Und aus dem Gebirge kopfüber fallen,
wie aus dem Traum.

Nicht anders fallen können als gerade: Sterne sehen
verkehrt herum, als sei es das erste Mal,
und sie als Zimmerdecke spüren, Samtteppich,
und der Schwindel so gewiß.
Die Hosenträger auferstehen lassen können,
sie verwandeln in elastisches und perfektes Seil,
der Gummi: eine Übereinkunft Hand in Hand
im vielfältigen Fühlen.

Ich wußte, es gab Lagerfeuer im Gebirge,
man sang und aß um die Freude herum,
mit andersartigen Wörtern, anderen Klängen.
Die Clowns kamen viermal im Jahr,
auch ohne mich an ihrer Seite,
doch jedes Mal war es das Gleiche:
die Karawane, die Sonne, das Sägemehl
in nackten Füßen erträumen, die Schule nicht brauchen
und die Seile des Trapezes.

Am schwarz gefärbten Himmel von heute nacht,
noch einmal auf die Sterne fallen,
in den Händen fest drücken all die Sachen,
die aus Freude bestehen.
Aus der Jackentasche einen entflammten Hosenträger nehmen:
die Zirkusmusik wie eine Glocke, das Gebirge
ganz grün. Und einen Elefanten vor Lächeln dick,
Blaues andeutend innerhalb des Lichtes.

Tr. from Portoguese by Luísa Costa Hölzl


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